12/09/2023
Solução criada por investigadoras do LEPABE permite obter minerais imprescindíveis na indústria farmacêutica, automóvel e eletrónica.
Eva Sousa e Sofia Delgado conheceram-se quando desenvolviam trabalho no âmbito das respetivas teses de doutoramento no LEPABE FOTO: DR
As investigadoras Eva Sousa e Sofia Delgado, do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), sediado na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), criaram um método de valorização dos materiais presentes na salmoura – associada muitas vezes a água extremamente salgada e carregada de toxicidade em resultado da dessalinização da água do mar – obtidos através de um processo designado por Osmose Inversa.
Com um potencial de mercado estimado em 7 mil milhões, esta nova tecnologia poderá ser a solução para vários problemas associados à sustentabilidade no setor da água. Os resultados preliminares são promissores e deram já origem à SeaMoreTech, uma spin-off da FEUP.
A dessalinização é uma das soluções apontadas para combater a escassez de água e a seca, que vão acontecer com mais frequência e intensidade nos próximos anos, por causa das alterações climáticas.
Esta solução vai permitir obter minerais absolutamente necessários na indústria farmacêutica, automóvel e também no campo da eletrónica que têm visto as suas cadeias de valor muito atrasadas, em consequência da dependência da Rússia e da China neste processo e de toda a situação geopolítica que se vive com o conflito na Ucrânia.
“Ao valorizarmos uma corrente que é vista tipicamente como um subproduto, um resíduo, que é a salmoura, nós podemos, de facto, de uma forma muito rápida e também muito eficiente, devolver todos estes minerais para estas indústrias que tanto necessitam, e em simultâneo, viabilizar a própria tecnologia da osmose inversa no ponto de vista de duplicar, por exemplo, a eficiência na recuperação de água potável”, explica Sofia Delgado.
“Estamos em Portugal, um país com 900 quilómetros de costa, temos que nos virar para o óbvio, que é trabalhar no desenvolvimento de uma economia azul sustentável. Há aqui um potencial enorme que tem que ser aproveitado até para podermos viabilizar tudo o que vem a seguir, como a proteção de espécies marinha e dos ecossistemas”, acrescenta Eva Sousa.
As duas jovens engenheiras conheceram-se quando desenvolviam trabalho no âmbito das respetivas teses de doutoramento no LEPABE, baseadas em eletrolisadores e pilhas de combustível para a produção e utilização de hidrogênio verde.
Focadas e fortemente motivadas pelos resultados que têm obtido à escala laboratorial, Eva Sousa e Sofia Delgado assumem que o grande objetivo para os próximos meses passa por trabalhar na comercialização desta tecnologia de uma forma sustentável e conseguir viabilizar a utilização da água do mar para a produção hidrogénio verde ou para a utilização pelas comunidades como água potável.